3 de abr. de 2010

Expositor de sonhos

Várias vezes, me pego deitado, a olhar pro teto... palestrando, discutindo.
Falo sobre vários assuntos que acho que entendo e domino. Falo das experiências que tive, do que vivo, do que vejo. Faço discursos políticos, dou entrevistas sob diversos temas polêmicos, mostro meus infinitos pontos de vista...
E divago sobre o amor, sobre Deus, sobre justiça, sobre erros, sobre humanidade, vida pós-morte, relacionamento... Falo por horas, para uma platéia ávida por minha palavras de alento e de confiança. Eles me admiram, se surpreendem a cada ponto de frase com minha personalidade segura e forte, com minha certeza corajosa...
Alguns passam a me odiar diante dos meus argumentos mais sólidos e se convencem -calados e derrotados- das minhas teorias vitoriosas, mesmo que não assumindo-se convencidos...
Mas a maioria, me aplaude de forma efusivamente sincera, exclama 'oh' e 'nossa' a cada investida minha dentro das vastas idéias que explano. Bailo soberano na sublimidade da minha cultura.
Falo tudo de cabeça mesmo, sem titubear, com vocabulário variado e ao mesmo tempo claro, nem um pouco enjoativo, que prende a atenção de todos, mesmo dos menos intelectualizados... E falo de tal jeito que até mesmo aqueles mais ferrenhos adversários me respeitam em silêncio.
Sim, pois são sempre mais que reflexões e conceitos: são verdades plenas, absolutíssimas. E diante disso, nenhuma voz se levanta enquanto falo.
Raríssimas contra-respostas, desnecessárias réplicas e, por isso, inexistentes tréplicas.
Perfeito e sucinto. A conta do chá, da exatidão. O objetivo é o meu rumo sempre imediato.
Ninguém fica sem resposta, sem atenção... nem o repórter corriqueiro, nem o admirador perdido.
No fim, saio do transe. Me levanto da cama e percebo sem esforço que o que se teoriza nas minhas 'viagens' não tem nem um pouco do glamour filosófico que imagino e sonho... dentro da realidade prática da vida.
Ou seja, engano a todos nas minhas palestras e discussões internas.

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