5 de abr. de 2010

Vai saber...

Olhando assim, no meio do povo que caminha pela cidade -cada qual com sua vida, aquela pessoa parece ser apenas mais uma. Cordial, simpática, prestativa, civilizada... 'É boa gente mesmo', diria algum observador superficial.
Mas se pudéssemos adentrar em sua mente... Sabe-se lá o que encontraríamos.
Aos nossos olhos materiais, a pele de cordeiro ainda é muito eficaz.
Talvez, recobrando sua memória, poderíamos acessar lembranças comprometedoras daquela pessoa. Da sua postura interior, da sua conduta outrora obscura e misteriosa, pois que todos nós somos um mistério vivo, 'em pessoa'.
Muito provável que sequer poderia estar no meio das pessoas que caminham ao seu lado, que a desconhecem dos passos passados, dos passos falseados. Muitos até pisam em suas pegadas, sem sequer imaginar o quanto de repulsa carregam n'alma.
Mais certo ainda seria a probabilidade de que nem mesmo um ambicioso e calejado advogado 'de porta de cadeia' tivesse coragem e estômago suficiente para defender a causa daquela pessoa, caso tudo fosse exposto em pratos sujos. Pobre diabo... sem defesa alguma, a lhe receber cuspes na face.
Certo. Aos olhos do povo que corre, o ser até que não fez grandes coisas... quantos fizeram pior? quantos fizeram muito mais? Mas se a consciência daquela pessoa -com o espírito marcado à fogo pela sua noção- falasse... o condenaria com rigor impensável para a justiça dos homens.
Basta então, ao pobre ser em questão, o fato de não conseguir mais andar de cabeça erguida, no meio dos que nada -ou muito pouco- devem. E, se o permitem, é porquê algum juiz invisível entendeu como mais justo e punitivo, essa pena: sentir-se preso entre os livres, a invejar-lhes a consciência tranquila. Sob o medo constante de ser apontado pelos seus atos, sob o terror de enxergar nos olhos alheios alguma lembrança daquele passado sujo. Que seja...
Ah, se todos soubessem daquela pessoa que caminha aparentemente descompromissada entre os tantos indiferentes...

Um comentário:

  1. "Eu me detesto, não presto, eu sei." É difícil pagar pelo que fazemos, mas mais difícil ainda é aceitar que não somos como queremos.

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