1 de ago. de 2014

Medindo Valores - Capítulo II


Tenho escrito muito pouco ultimamente e menos ainda tenho visitado esse espaço que cultivo com tanto carinho. Meu volume de trabalho aumentou bastante nos últimos tempos e aí, quando sobra algum tempo, é bem pouco. Tão pouco tempo que tenho que ficar escolhendo o que poderei fazer dentro dele.
Acho que isso também tem a ver com o fato de precisar escrever menos. Não sinto a necessidade de vender pela escrita qualidades e virtudes que não trago ainda na alma, mas que fazia de tudo para convencer alguém a comprar.
Não tenho nada aos olhos de quem me vê, mas eu mesmo consigo enxergar o quanto posso conquistar continuando neste caminho.
E o preço das coisas? Nossa, como é bom saber o preço certo de cada uma delas...
Posso afirmar que essa sim, é uma conquista.
E incrível é perceber o quanto saber o preço exato das importância diminui expectativas, diminui frustrações, aumenta a tolerância diante das decepções, eleva a paciência, a resignação, a compreensão... É realmente muito importante saber o preço de tudo.
Na postagem anterior já havia dito que por saber isto, no mínimo, chora-se menos.
Até rir muda de figura, pois você passa a rir apenas do que realmente vale o riso. A desgraça alheia do bêbado que cai, a vergonha passada pelo outro que sofre o deboche de multidão... Tudo perde a graça diante do preço aprendido.
...
Dia desses, a seleção foi eliminada da copa. Sediando o campeonato, tomou uma goleada considerada vergonhosa, inesquecível, histórica. Não foi fácil assistir aquela partida. Mas aconteceu.
E esse lance de saber o valor das coisas também tem muito a acrescentar nesses acontecimentos.
Principalmente porquê nós, brasileiros com muito orgulho e muito amor, não somos tão incondicionais assim. Menos ainda realistas. Não dá pra querer ter uma vida melhor por conta de nossa seleção ter conquistado mais um campeonato mundial. A gente tem cada vez mais se contentado com menos. É uma vaidade besta num ranking mundial. "A saúde falta, a educação não temos, mas somos campeões do mundo"... Pra quê?
E eu fico vendo o nosso carismático zagueiro cabeludo pedindo desculpas pelo ocorrido. Desnecessário. Talvez tenha pedido desculpas pela quantidade de gols sofridos, pela tal vergonha... Totalmente desnecessário. Eles jogaram, não foram bem e perderam. Invertamos um pouco e pensemos que a goleada foi só um detalhe. O resultado inesperado e tão negativo no futebol serviu pra muito coisa.
Estamos em ano de eleição. Estrategicamente nossas eleições mais importantes caem justamente nos anos de copa do mundo... Já pensou se a gente ganha? O gigante que diziam ter acordado -mas que parece que agora cochila- iria entrar em hibernação de vez. Nada mais anestésico -ou alucinógeno- que o nossa vaidade acariciada pelo reconhecimento mundial. A copa, o carnaval, o réveillon... servem justamente pra isso em países que passam longe de um equilibrado bem estar social.
Sou um apaixonado por futebol. Adorei mesmo essa copa por aqui -apesar de concordar que sediar um evento desses não é coisa pra quem tem prioridades muito mais urgentes- mas já que assim foi decidido, curti. Conheci até gente que me fez desenferrujar o inglês. O clima aqui do Rio nunca esteve tão bom, nem tão relativamente seguro, nem com os transportes públicos tão bem maquiados... Vai ter gringo acreditando piamente que isso aqui é o paraíso, pois em alguns momentos realmente pareceu ser.
Mas vamos parar por aqui. Segunda-feira a vida continua dura como antes. A polícia vai finalmente tirar sua folga tão esperada, os demais funcionários públicos vão continuar exercendo seus encargos porcamente quase que de maneira unânime, a injustiça e o desequilíbrio social voltarão às suas cadeiras... E eu vou seguir com meu otimismo temperado com discernimento.
Nosso zagueiro disse que queria que o povo tivesse pelo menos esse motivo pra sorrir... E eu digo que a seleção não sabe o mal que deixou de fazer ao não nos fazer sorrir. (Tudo bem que não precisava ser de 7...)
Nos dias seguintes, seguiu aquele monte de gente cobrando como que uma dívida dos caras: o tão esperado hexa. Outra imaturidade do nosso povo.
Se, numa situação absurda, da tal conquista resultasse um aumento substancial da qualidade de vida da nossa população e o time jogasse sem a menor consideração, aí sim, poderíamos exigir alguma reparação ou dívida. Só assim. A seleção perdeu, mas meu salário não diminuiu -nem aumentou, claro-, não peguei uma mínima gripe por isso, nem perdi um dedo, logo, que dano sério isso me causou? Voltemos ao ranking de vaidade mundial mais uma vez: agora sim, diante de um mundo que sabidamente conhece nossa realidade, ficamos nus de vez. E continuamos ainda cobrando das pessoas erradas, no caso dos jogadores de futebol...
Se a minha vida anda ruim e não depende de mim a melhora, não é culpa da seleção.
Eu vi os holandeses deixando o local onde torciam depois de sua equipe ter sido derrotada, e não vi aquele mar de lágrimas que banhou o Mineirão. Com certeza, eles sabem melhor o valor das importâncias que nós... "Perder faz parte do jogo". Saíram dali e cada um pegou um excelente transporte público, e foram para suas casas confortáveis, ou para algum bar, gastar parte do bom salário que recebem em seus bons empregos. Os jogadores e as crianças até podem chorar. O resto não.
Tanto que já nos conhecem a realidade lá fora que até nos pediram desculpas... Sabem que a gente não tinha muita coisa sólida além do crachá de "país do futebol". Agora, nem isso... Mas é a vida.
Não devem pedir desculpas por não nos satisfazer numa paixão tão efêmera... A cada coisa, o seu devido valor.
Enquanto isso, um monte de gente que nos diz representar, pisa em nossas cabeças sem a menor cerimônia. Em tantas vezes, mentem descaradamente que não nos causou dano algum e fica tudo por isso mesmo.
Agora vou eu cobrar duas dúzias de esportistas pela minha infelicidade? Eu não aguento...
...
O capítulo III deverá ser curto...

2 comentários:

  1. Você pode até dizer que não sente mais tanta necessidade de escrever, acredito, parece que quando o tempo passa é mais fácil falar consigo mesmo do que escrever para outros, mas tenha certeza de uma coisa, o senhor anda inspirado rsrs
    Concordo em gênero, número e grau com você em relação à Copa, o pessoal deu importância demais a um jogo de futebol. Claro que doeu ter levado 7 gols, mas é a vida né. E se você acredita que foi comprado, não tem muito que se possa fazer no fim das contas.
    Obrigada pelas visitas no meu cantinho ;)
    Beijos rimados pra você :*

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    1. Querida, Vivian...Só você mesma pra ler todo esse post e ainda comentar com tanta propriedade...rs
      Olha, não acredito em resultados comprados, sabe... Não num evento tão grande e tão fuxicado quanto uma copa do mundo. Fica difícil esconder, não acha? É que esse povo adora uma teoria da conspiração, afinal, somos espertos demais pra crer que só não damos certo por conta dos ninjas sabotadores.
      Seu cantinho é bom de se visitar. É fato. Sempre que dá, passo por lá.
      Beijo grande no coração.

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