5 de set. de 2013

Minha sordidez


Sendo sincero: quantas vezes, corrompido pelo desejo, convenientemente enganei-me?
E enganei também quem era meu objetivo de conquista pueril e sórdida, fazendo crer que o desejo, ao se apresentar, seria consequência somente da proximidade, quando na verdade era a causa de tudo? E enganei todos os seus, à sua volta...
E olhando assim, com toda a franqueza do coração: ainda hoje não tenho certeza se tinha ou não consciência PLENA dos meus atos. Fato é que não tinha nenhuma noção sobre as consequências dos mesmos. Tudo me convinha, certamente.
Sério: acho que nunca foi amizade! Acredito que nunca foi sequer além de querer apenas ser mais um naquelas vidas, como os tantos que apareceram, que usufruíram e sumiram logo após.
E também, os alvos, nem eram tudo aquilo que eu os forçava acreditarem ser. Eram poucos, comuns, tanto quanto eu. Nada demais. Mas descobri logo que elogios pontuais (a quem tem pequena autoestima) baixa guarda, abre porta, reduz os sinais de alerta, relaxa partes do corpo...
Forçando-me a confiabilidade, tornei-me "amigo" mais próximo inúmeras vezes, minando disfarçadamente -sob a sombra dos argumentos mais concretos possíveis- quaisquer tentativas de afastarem-se da solidão quando longes de mim. Não antes de eu conseguir o que queria, claro! Depois, tanto fazia...
Dei-lhes conforto, consolação, amparo, dediquei-me, abri mão, esforcei-me... Até porquê de fato -hoje compreendo isso-, havia uma semente em mim, torta, mas que ainda assim não me deixava ser nunca de todo mau -apesar do corpo me clamar sensações e saciedades à qualquer custo, sem escrúpulos, sempre que possível. Os fins justificavam continuamente os meios.
Reconheço que a lembrança do prazer sempre foi convenientemente apelativa pra um sujeito baixo como eu. E ainda eu, louco de vontade por dar voz às minhas fraquezas -sob a desculpa esfarrapada de ter sangue quente e descendência árabe- em tantas vezes cedi mesmo às torpezas, sem dó nem piedade. Os sentidos -todos eles!- sabem bem suas boas horas de inibição e exposição. Até mesmo sob a sombra da mentira e da ilusão.
Fiz-me afinado de ideias, em sintonia plena... Tudo premeditado, devidamente estudado. Esperei pacientemente o momento de saciar minhas reais intenções. Por anos a fio, enquanto preciso fosse. Vidas paralelas, duplas, triplas, aparentemente estagnadas, realmente fervilhantes.
O desejo que trago nas veias tornou-me contato de alta periculosidade. Um encosto.
...
Por fim, só muito recentemente, descobri que apesar de todos os clamores físicos, apenas a consciência tem sempre razão.
Demorei até compreender que o sexo só é puro quando contaminado pelo amor.
Não. A voz não calou. Ainda. Continuo corrompido sim, só que agora algemado pela compreensão da minha realidade.
A memória das dores que causei me são suficientes. Freios eficientes.

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