6 de jul. de 2013

A força de um abraço


Eu já era um burro velho. Devia ter uns 27 ou 28 anos na época...
Lembro que saí do quarto em direção a sala, mas ao passar pelo corredor, por algum motivo desconhecido, senti vontade de olhar para a cozinha, enxergando lá alguém que simplesmente me arregalou os olhos. Meu coração tremeu de tanta surpresa e alegria.
-Vó!
Fui em sua direção, ansioso, ainda surpreso com sua presença depois de tanto tempo. Estava ela no fogão, mas parecia ser apenas um pretexto para me esperar. E ela fez questão de provar sua autenticidade, dando-me o abraço apertado de sempre, como que se dissesse: "-Viu como sou eu mesma?"
Sim! Era ela! Quanta alegria, meu Deus do céu! Quanta emoção cabia naquela surpresa, naquele abraço!
A Dna.Georgina, minha avó materna, tinha como marca registrada seu potente abraço -segundo minha mãe, fruto dos anos em que praticava remo de forma amadora, quando na juventude, lá no Espírito Santo.
Me entreguei ao seu carinho, como quem se entrega ao mar. Mergulhei no abraço dela. Apesar de ter consciência de que ela já não estava mais entre nós aqui na Terra, em momento algum tive medo. Acho que era tanta saudade que não me sobrava espaço pra receio nenhum. E afinal, quem, diante de quem tanto amou um dia, vai sentir medo por um motivo qualquer? Muito menos eu sentiria.
E como veio, aquele momento se foi. Durante o abraço, já sentia-a como areia escapando dos dedos. No caso, era ela, escapando dos meus braços, desfazendo-se como uma densa brisa. E no misto de satisfação e frustração, acordei estarrecido, tamanha a realidade do que havia experimentado. Eu ainda podia sentir minha avó nos braços, trazendo a sensação de ter sido por ela abraçado.
O que fora aquilo?
De repente, um estalo me despertou imediatamente o motivo do sonho tão tangível: era madrugada do meu aniversário. E a saudosa e querida Dna.Georgina veio me dar os parabéns de presente, pessoalmente, não em carne e osso, mas em alma e sentimento. Muito melhor!
Não tive outra coisa a fazer. Chorei. No silêncio daquela madrugada, troquei a respiração pelo choro. E agradeci a Deus pela oportunidade maravilhosa da reedição do contato com quem tanto me fora importante. Oportunidade que nunca mereci, mas que por misericórdia, tive a benção e a alegria de receber. Ah, se todos compreendessem essa possibilidade dentro da jornada...
Depois disso, estive com ela outras vezes, e sempre aquele abraço forte, a me confirmar sua presença verídica.
Aquele abraço gravou na minha alma a compreensão de que ninguém morre, de que nenhum elo de amor se desfaz no vai e vem das vidas.

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