20 de abr. de 2013

Um fantasma no sofá

Nessa época eu dormia no sofá da sala. Não me lembro qual a razão, só que dormia. E que já eram umas onze da noite.
Deitei cansado, só esperando apagar. Não consegui. Uma angústia chata e sem aparente razão tomou conta do meu peito.
Mal apaguei a luz e o silêncio fez o favor de evidenciar que havia mais alguém na área. Entenda você ou não o que quero dizer, acredite ou não nessas coisas: havia mais alguém presente na sala.
Só que eu, grogue de sono, ainda não estava me ligando no fato.
Explico o que deveria ser considerado: ouvia claramente o som de quem havia sentado no sofá ao lado.
Descobri a cabeça e, no meio da escuridão, apertei a vista, só pra constatar que não era ninguém de casa. Não vi ninguém.
Voltei a cobrir a cabeça e me encolhi, quebrado de sono. Mais alguns segundos e agora o barulho de quem se levantava do sofá, seguido de passos firmes, no meio da sala, em direção ao corredor.
Mais uma vez procurei o barulhento sem encontrá-lo. Porém, não demorou mais pra cair a ficha sobre o que ocorria: alguém do lado de lá havia entrado na minha casa sem ser convidado e estava conhecendo as dependências. Parecia agitado, já que os passos continuavam, ora acelerados, ora cambaleantes.
Por isso aquele mal estar todo. Realmente essas coisas não trazem boas vibrações. Você nunca sabe quem está ali.
Não tive medo. Desde que comecei a entender como essas coisas funcionam, aquele ar de mistério deixou de existir, perdeu o glamour e a graça. Afinal, pra tudo há uma explicação racional, ainda que não consigamos ver ou tocar.  Por outro lado, não queria manter esse tipo de visita na minha casa.
Apesar do sono, sentei no sofá e fiquei observando aquele vai e vem de passos, agoniado que só.
Lembrei das orientações de que nessas horas -mais do que nunca- vale apelar pro setor responsável. Rezei. Não falei diretamente com a figura, não fiz como muita gente faz, agindo como exorcista fanfarrão, nem como um místico, como um amigo -pra não dar corda-, mas pedi pra que alguém orientassem o invasor do além (com todo respeito) pra fora da minha casa.
Voltei a deitar. E esperei mais uns cinco minutos até escutar um estalo definitivo na porta. Depois disso, o silêncio voltou a dominar o ambiente. Aquela sensação ruim também passou e eu finalmente consegui dormir.
...
Fico imaginando como devem ser essas coisas. Se o sujeito estava lá fora, esperando alguém abrir a porta. Se entrou ignorando a matéria, seguindo o pensamento afim de algum de nós. Se o estalo da porta foi a chegada de um responsável que lhe deu um puxão de orelha e o fez sair de lá. Se precisava de orientação, se estava só querendo curtir um clima mais familiar, muito menos se já havia se apercebido morto... Porque isso também acontece muito por falta de preocupação com essa possibilidade enquanto estamos vivos.
...
E faço o seguinte pedido: procure conhecer minimamente sobre essa natureza, em vez de ficar batendo três vezes na madeira, fugindo do assunto como quem foge da cruz. Porque essa é a única hora que chega pra todo mundo. E o mais chato é que ninguém sabe precisamente quando. Pode ser daqui mais uns cinquenta anos, pode ser daqui meia hora. Vai saber...
Não venha dizer que isso é invenção ou que tudo a respeito é conversa de enganar trouxa. Vá procurar conhecer. Quem procura, acha. Mas procure certo, por favor.
Digo isso só pra você não ficar perdido na hora "H". Sem saber pra onde ir, o quê fazer. E menos ainda: pra não virar uma alma penada, um fantasma folgado na casa dos outros.

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