3 de nov. de 2011

Despedida em dois atos

ATO UM
Quando ela disse que aquele poderia ser o último momento dos dois, ele não lhe deu ouvidos. Afinal, ela sempre falava aquelas coisas. Mas dessa vez, parecia prever o futuro próximo. Seu olhar estava diferente, o pesar ao dizer isso fora marcante. Porém, ele não estava equilibrado para perceber esses detalhes. Os sinais sempre existirão...
Até desculpou-se por não ter gostado de ouvir as verdades dela, mas com a frieza e a distância de quem ainda está com o orgulho ferido. O orgulho que por tantas vezes nos deixa cegos e melindrados.
E por isso, não se despediram como faziam normalmente. Ele, sem notar, parecia diferentemente magoado com sua partida, apesar de fazer parte da rotina. Ela tinha de sair antes para trabalhar. Seria o sinal?
Pouco depois, quando ele mesmo se encontrava a caminho do trabalho, recebeu a notícia que jamais poderia esperar. Aquele momento de discussão tola fora realmente o último momento dos dois. Uma fatalidade se deu e uma parede invisível os separaria desde então.

ATO DOIS
Quando ela disse que aquele poderia ser o útlimo momento dos dois, um estalo pareceu recuperar sua razão. Realmente, por que se magoar com aquelas verdades, ditas por ela apenas para seu bem, para sua melhoria? Alguma coisa lhe vibrara diferente por dentro, uma angústia triste. Algo que tocara a ambos, sem explicações maiores. Apenas sentiam.
Seu semblante mudou. O olhar suavizou e voltou a enxergar diante de si a amada, tão esperada, por tanto tempo. Dois passos à frente e os braços abertos para um abraço apertado. O calor, a pele e o tamanho dela, tudo tão conhecido e ao mesmo tempo sempre tão surpreendente ao seu coração. Protegeram-se, vestiram-se naquele abraço. Beijaram-se com muito mais carinho e cuidado.
Desculpou-se e agradeceu-lhe a corrigenda. Ela, que apenas queria ser compreendida, sorriu com os olhos brilhantes de sempre.
Despediram-se de forma mais atenciosa. Não havia espaço para mágoas. Ela partiu antes para o trabalho, como era a rotina.
Pouco depois, quando ele mesmo se encontrava a caminho do trabalho, recebeu a notícia que jamais poderia esperar. Apesar de tudo, havia algum alívio no meio daquela atmosfera de lamentos. Fez o que deveria fazer: despedira-se dela, com o coração leve e cheio de amor. Sem saber da fatalidade que se daria em seguida. Uma parede invisível os separaria desde então.
...
Dizem -e eu acredito- que não há dor maior que a sensação de não ter feito tudo o que poderia, de melhor. Após estes imprevistos da vida, sempre nos ficará a impressão mais forte do arrependimento, da impossibilidade do refazer, do recomeçar. E o pior: com mais tempo para que esses pensamentos ecoem dentro de nós, acionados pela consciência implacável.
Então, diga que ama, peça perdão, perdoe, beije, abrace, faça feliz, reconheça valores, agradeça, receba e despeça-se, como se fosse a primeira e última vez, sempre que tiver oportunidade, de todos e por tudo.
Pergunto novamente sobre o dia de amanhã: quem saberá dele?

4 comentários:

  1. Nem tudo é do jeito que queremos, nem tudo é do jeito que planejamos ...

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  2. Verdade, Cleber.
    Mas se der pra fazer alguma coisa melhor... que se faça, não é mesmo?
    Fazendo a nossa parte, vamos jogar a responsa pros outros...
    Grande abraço!

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  3. Da arte do quase.

    Aff...que angústia!

    =\

    Beijos, moço querido.

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  4. E não é, Luninha?
    Quem sabe do amanhã?
    Beijoca!

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