6 de out. de 2011

De Quando o Fim é Agendado...

Existe uma frase que diz assim: "Se você viver cada dia como se fosse o último - entenda-se bem: na intensidade dos limites do seu corpo e não da sua consciência - algum dia provavelmente você vai acertar."
Isso impressionou muito aquele homem que, desde que conheceu a tal frase, passou a se olhar no espelho cada manhã e a se perguntar: "-Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu ia querer fazer o que vou fazer hoje?" E sempre que a resposta lhe soava "não", entendia que tinha que mudar alguma coisa. 
E ele não sabia ainda o que em breve lhe ocorreria...
Pois bem! Um dia, descobriu que morreria. Até então não seria nada demais, visto que todo mundo acaba mesmo morrendo algum dia. Descobriu no entanto que teria no máximo seis meses de vida. Lamentar-se? Deprimir-se? Conformar-se?
Fez então sua primeira grande escolha: continuar vivendo. Lembrou-se que muitos morrem antes da própria morte. E que essa era a pior das mortes. É quando somos nós mesmos que minamos a nossa esperança.
Mas para aquele homem, lembrar-se sempre que logo estaria morto foi a ferramenta mais importante que jamais imaginou contar pra o ajudar a fazer grandes escolhas no  resto de vida que lhe sobrava. Porque quase tudo, toda a expectativa exterior, todo o orgulho, toda a vaidade, todo o egoísmo, todo o medo das dificuldades ou das falhas... todas estas coisas simplesmente sumiam em face da morte, fazendo-o preocupar-se apenas com o que era realmente importante.
Levar a sério o fato de que você vai morrer talvez seja a melhor maneira de despertar de vez para a Vida. Serve para evitar que você tenha medo de perder o que de fato nunca foi seu... E se você já está livre, não há mais razão para não seguir seu coração.
Para ele, tudo mudara. A noção do quão pouco ainda viveria, significava tentar dizer aos seus amados tudo o que pensou que teria a vida inteira para lhes dizer... em apenas uns poucos instantes. Significava dizer adeus. Ou até breve, dependendo da espiritualidade.
Mas enquanto ainda havia sobrevida, aquele homem percebeu que poderia afirmar algo com um pouco mais de certeza. Aliás, com muito mais do que quando a morte ainda lhe era um conceito útil mas absolutamente distante: a certeza de que ninguém quer morrer. Eis o tamanho do respeito que se deve ter pela Morte. Por isso, a partir daquele momento, passou a grifá-la com a primeira letra maiúscula, para que apresentasse -de forma simbólica- a mesma importância da Vida.
Sim. Observe que mesmo as pessoas que acreditam na vida após a morte, na imortalidade da alma, no céu, no paraíso... nenhuma delas deseja morrer. (Não é preciso nem citar o pavor velado dos que creem no fim absoluto, no nada...)
E apesar de todas as possibilidades que dispomos hoje de lutar pela vida, mesmo assim, a Morte é o destino que todos nós compartilhamos em igualdade máxima. Nenhum "vivo" nunca escapou dela, afinal a Morte é uma necessidade da Vida. A Morte, queiram ou não ver por esse lado, é o sinal mais evidente da renovação. É o agente transformador. Aliás, é a própria Morte quem abre espaços para uma nova Vida.
Se hoje, no auge das possibilidades, jorramos tamanha vitalidade ao ponto de não valorizá-la, ao ponto de simplesmente jogarmos a nossa saúde no lixo, ao ponto mesmo de apostar a própria Vida em duelo com a Morte, amanhã, cedo ou tarde, espremeremos o resto dela, à procura de uma gota a mais qualquer que seja. Nem tanto para viver... mas para continuar acreditando que continuaremos a existir.
...
A Morte.
A grande maioria das religiões e filosofias não consegue contribuir muito ao ser humano diante desse momento ainda muito sombrio e desconhecido. Elas, em algumas raras vezes, apenas tentam nos confortam com conceitos imprecisos. E a maioria delas arrisca-se na ideia do nada, da inexistência, do inferno, do paraíso, do céu, e acabamos nos conformando muito mais com o tempo do que com os dogmas apresentados.
O próprio ser humano, enquanto cheio de possibilidades, não quer nem ouvir falar dela. E quando aparentemente sem saída, a vê -de forma totalmente equivocada- como a única saída. Diante dessa postura, penso que em algumas vezes, a Morte é encarada do mesmo modo negativo que Deus: ambos misteriosos, casuais e temidos.
Uma verdade é que ninguém mantém sua soberba quando se encontra ciente, diante da morte. É aí que mesmo o mais ferrenho ateu se curva a Deus, sem um pingo da convicção que aparentava possuir segundos antes.
Bem certo que nosso instinto de preservação fala mais alto. E justamente para que não nos entreguemos à Morte por qualquer desespero maior. Mas não podemos ignorá-la, desconsiderá-la. Até mesmo para estarmos preparados diante das perdas inesperadas. A única coisa que nos pertence são nossas escolhas e decisões. O pensar e o fazer. A duração da nossa própria vida é relativa e questionável. Que dirá a da vida dos que nos cercam!
Mas ainda vamos naquela ideia de que a vida só pode ser vivida na saciedade dos sentidos, através dos excessos. Não estamos muito certos do além, mas vivemos muitas vezes além do que o corpo suporta, na beira da Morte. Continuamos considerando que a vida é um bem absolutamente material, com uma capacidade útil desqualificada e sem garantia alguma de assistência. Não sabermos o dia de amanhã não nos dá o direito de fazer o que bem entendermos hoje.
A vida é muitíssimo mais que um corpo em movimento próprio.
A vida é uma espécie de consentimento existencial.
A vida é o próprio estado de existir.
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Particularmente, não gosto de falar sobre determinados assuntos me baseando no (sólido) monte de argumentos oferecidos pelos estudos dedicados que faço a eles. Citar uma religião ou determinada filosofia me soa forçoso, quase que "fazer proselitismo", "atrair ovelhas para o rebanho do qual faço parte", entende? Isso realmente não me agrada.
Penso que cada um segue os fundamentos que mais lhe satisfazem o coração e a mente. Por exemplo, cada um sente a vida e a morte de um jeito. Uns permitem-se questionar, outros não. Mas definitivamente, falar da vida e da morte sem pôr em xeque o outro lado delas, é impossível. Fica sempre incompleto.
A fé -amparada nas religiões e filosofias- deve oferecer a tranquilidade do coração, não só diante do começo, mas também do meio e do fim. Ou tudo se apresentará como um grande e assombroso pesadelo.
Parece que fica faltando sempre alguma coisa nessas horas: é o conhecimento. 
Tememos o que desconhecemos...
E é por isso que gostaria muito de que a ciência também estivesse mais a par desses assuntos, que não apresentasse sempre essa postura tão ilusoriamente austera e ao mesmo tempo freada no orgulho. Queria que ela -a ciência, evoluída, ratificasse mais rapidamente o que já é comprovado pela certeza do meu coração: que se a morte existe, a inexistência não.
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Steve Jobs, o criador da Apple.
Pra uns, o cara morreu mesmo, virou pó e só. Pra outros, passou pro lado de lá.
Pra uns, simplesmente um homem que comeu o pão que o diabo amassou e que depois ficou rico. Pra outros, uma lição de vida. Uma vida histórica.
Com cinquenta e poucos anos, até ontem: fora um empresário muito bem sucedido -riquíssimo, visionário da tecnologia, casado, pai de família... Que antes, superou o abandono, a rejeição, várias "roubadas", "bolas nas costas" e afins, vendeu garrafas vazias pra comer...
Morreu em razão de um câncer no pâncreas, mas não sem antes fazer história. Aos olhos de muitos, viveu pouco. "Aproveitou pouco", é o que gostariam de dizer.
Tinha todo o dinheiro do mundo mas nem assim conseguiu escapar da partida compulsória.
Pra quem enxergou suas entrelinhas, viveu demais em pouco tempo.
E você? Sabe o dia de amanhã? Se vai continuar saudável? Se vai ter muito tempo de vida? Se seus amados estarão ainda ao alcance dos seus abraços? Se os seus inimigos serão realmente mortais?
Medite sobre, imagine-se e tire suas conclusões... se tiver coragem.

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