25 de out. de 2011

Como pôde fazer? Por que o fez?

Na verdade, não sabia bem como as coisas haviam se dado. Num determinado momento, a escuridão, a cegueira absoluta, a queda. Pouco depois de evidenciado o equívoco, a recuperação da visão, a percepção dos ferimentos, do mal, da dor... e, por fim, a decepção e o desânimo... Tudo se deu assim, de forma covarde, inconsequente e egoísta.
Quando acordou, era tarde demais. Bem mais do que podia imaginar. Já havia desejado tesouros que não lhe pertenciam e que nem deveriam ter passado por seus olhos com aquela intenção suja. Na verdade, o pesadelo agora era real. Não era apenas um sonho ruim, daqueles em que se respira aliviado após o despertar.
Daí pra frente, o que se sabe é que, independente do tempo passado e de não mais ter qualquer contato com os prejudicados, viveria acompanhado constantemente pelas imagens do crime, pela lembrança daquele momento surpreendente.
Tinha até vontade de pedir perdão mas não por querer ser perdoado. Era muito mais pra mostrar-se sabedor de tudo o que causara. Porque o perdão mesmo, nem ele se permitia realizar. Só que até para esse pedido as coisas se monstravam impossíveis. Talvez, se no momento em que fora flagrado em ambição, se assumisse, se não se acovardasse e não se fizesse de injustiçado, talvez, não vestiria a máscara da mediocridade.
Pois que se um criminoso assume a contravensão quando surpreendido, pode -da forma que aceita o ato- passar-se por arrogante ou doente. Pode ainda correr o risco de colher a condenação ou a misericórdia. Já quando se acovarda, é rebaixado à mediocridade. A covardia denota vergonha do cometimento, falta total de nobreza de alma, literalmente falta de coragem. O não assumimento e a mentira diante do flagrante agravam a ilicitude. Pior ainda quando, em desespero, envolve inocentes tentando desvencilhar-se. Não há ainda humano algum na Terra que seja capaz de perdoar uma covardia dessas.
Mas tudo isso poderia piorar ainda mais. Mesmo que sabidamente foragido, mesmo que passando a imagem da idoneidade aos desconhecidos, seguia prisioneiro de sua consciência e refém das suas lembranças.
Porque é assim que as coisas são. Por mais que aquele que faça o mal não aparente se importar com suas vítimas, por mais que em sua face se ilustre um sorriso leve, em sua alma estarão as manchas de sangue, os ecos da dor, que cedo ou tarde lhe trarão o despertar de uma angústia dilacerante e do remorso sem aparente solução.
E certamente que as perguntas "como pude?" e "por que fiz?" lhe perseguirão pelo resto da sua miserável vida. Era exatamente assim que ele seguia: totalmente são, mas nem por isso livre dos farrapos da insanidade.

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