27 de jul. de 2011

Ser prático é ser mais interessante?

Me surpreendi com a quantidade de coisas -em geral, textos- que já produzi mas que com certeza nunca sairão do bloco de notas ou da gaveta. E fiquei tentando encontrar um 'porque' para que eles fossem condenados à minha censura com tamanha severidade.
Se é por medo, seria medo do quê? Da exposição excessiva da minha personalidade? 'Excessiva' por que? Porque 'revelaria além do que deveria'? E o que seria esse 'além do que deveria'?
O lance é sempre o mesmo: receio de revelar ao mundo um monte de coisas que tanto tenho dificuldade de admitir na intimidade. O orgulho é sempre a causa dos nossos entraves... A vaidade é um risco aos falsos.
Observei que a maioria das tais coisas sempre faz parte de tentativas -sem sucesso- de variar sobre um mesmo tema... Então, a tendência seria só uma: a revelação da obsessiva mesmice que só eu sei que possuo. Insincero, quando exponho, tomo o cuidado de envernizar e filtrar essas fragilidades.
A vida é cheia, lotada de conversas práticas, de apenas coisas que nos interessam e que devem interessar aos outros. Todo o resto deve ser ignorado, longe da vista de quem poderá nos condenar, nos colocar fora do padrão.
E pode ser que o que temos de melhor fique o mais escondido possível de quem nos interessa e pode acrescentar. Por vergonha ou receio, a gente deixa de mostrar nossas fraquezas -fragilidades- e consequentemente nossa humanidade. Sempre preocupados com a imagem, com a fortaleza aparente, com os padrões, vivemos fazendo proselitismo das nossas pretensões. Duvidosas virtudes que nem sempre já conquistamos... Mas são mais importantes para nossa frágil vitrine.
Filosofar a dois, conversar sobre a vida, sobre os próprios anseios, mostrar piedade e humanismo, remar conscientemente contra a maré, trazer à tona o arrependimento, pedir perdão e perdoar sem pisar, mostrar a música que ouvimos quando apaixonados, o filme que nos emociona na solidão, assumirmos nossas dificuldades e a hora em que tentamos reagir... isso não nos permitimos compartilhar.
E fica um tesouro escondido, inutilizado, para que ninguém veja o quanto somos inseguros. Na busca de fazermos parte do coletivo, ficamos todos iguais. Sem graça, mas inseridos.

2 comentários:

  1. Sei bem o que sente! No geral queremos tanto parecer fortes e invulneráveis aos outros que esquecemos que nossas fragilidades são apenas frutos da natureza humana. É estranho e muitas vezes também constrangedor expor nossas ideias, ou deixar a tona nosso íntimo às pessoas, principalmente àquelas que nos conhecem, mas que nem duvidam desse turbilhão de pensamentos que se forma em nosso cérebro. Mas fazer o que?! Ninguém é forte o tempo todo... não são poucas as vezes em que cedemos às nossas angústias, traumas e incompreensões. Cada qual tem uma forma de desabafar tudo aquilo que fica preso na garganta; nós apenas escolhemos a escrita como um artifício de expormos nossas ideias, e graças ao bom Deus, existem pessoas solidárias que compartilham de nossa dor ou felicidade apenas lendo o que escrevemos. Parabéns pelo texto! Estamos no mesmo barco rs. E aproveito para agradecer sinceramente todas as críticas construtivas, comentários e um pouco de seu tempo que dedicou lendo meus textos! Obrigada, de verdade!

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  2. Minha jovem flor!
    Obrigado pela visita e por compartilhar suas idéias.
    E como seria bom poder -sempre!- conversar e filosofar sobre o que sentimos, receiamos e aprendemos, com pessoas que não nos ofereçam perigo, sem o risco de utilizarem o que dizemos contra nós, em algum momento.
    Vejo isso pelo tamanho gigantesco dos e-mails que troco com meus amigos... Sinto-me seguro e 'largo o dedo' mesmo.
    Quando não, o blog é nossa salvação!
    Beijocas!

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