22 de mai. de 2010

Doce ilusão

Aquele coração era vistoso como uma frondosa árvore. Chamava a atenção de todos por conta do enraizamento aparentemente firme, profundo. O caule, robusto e sincero, dava a sensação de segurança infinita. Em sua copa, os galhos se deixavam encher com tantas folhas e em tanta concentração, que durante os dias de sol forte ou de grande tempestade, muitos sob aquele 'telhado' se sentiam sinceramente protegidos. Por fim, de tempos em tempos, ainda apareciam flores a lhe enfeitar os ramos em natural mosaico, perfumes a inspirar os sonhadores, e frutos a alimentar os pássaros íntimos.
Por muito tempo aquele coração realmente pareceu constante e definido...
Tudo na vida é passageiro se não cuidado. Como uma árvore deixada à ação das pragas, o coração envaidecido e orgulhoso por desfrutar de ilusórias condecorações, também se degrada profundamente.
O solo -antes firme- sofrendo a ação constante das chuvas, entrou em erosão. As raízes perderam a aderência e instabilizaram toda a estrutura da grande árvore. Cupins encontraram na umidade do descuido, ambiente propício a sua proliferação e com voracidade, destruiam -sem resistência- a intimidade mais oculta.
Fragilizado na alma, o vegetal passou a definhar, a perder folhas dia a dia... Os galhos logo apresentavam ser ameaças a quem antes lhe procurava abrigo ou diversão. Os pássaros se foram e as pessoas mais queridas também...
Todos se afastaram amedrontados daquele coração, agora surpreendentemente irreconhecível.
Havia apenas uma única certeza: a árvore logo logo tombaria. Era o que restava aos seus ocos nós. Até as pragas abandoram o ambiente inútil. Nada mais tinha aquele coração a oferecer. Talvez só lágrimas de lamento.
Mesmo que alguma semente perdida tivesse conseguido lhe sobrar nos momentos derradeiros da queda, não seria capaz de recuperar a imagem do que fora impregnado na mente de quem um dia, viu decepcionado, as duas fases tão distintas daquele coração.

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