2 de jan. de 2010

Ao Velho Triste

Permita-me,
Passar as horas derradeiras que regridem, ao teu lado.
Mesmo que isso signifique ter de fechar seus olhos, no momento mais sofrido.
Mesmo que isso manche um pouco a lembrança de te ter caminhando ao meu lado, até então.
Mantenha-se ao alcance dos meus olhos já saudosos da sua imagem, nos meus braços ávidos por te abraçar sempre mais uma vez e dos meus beijos em sua pele envelhecida.
Você ainda por aqui me represa as lágrimas, liberta minha garganta do nó das angústias e meu coração do descompasso doloroso que tomará conta dele na sua ausência física.
Se for possível, que me deixe carregá-lo no colo, sentir suas dores e sofrer seu sofrer.
Eu o faria, se o pudesse.
Os espelhos são testemunhas do meu amor por você.
Assim como as torrentas que me marejam os olhos ao limite para logo se precipitarem ao chão.
Talvez, se pudesse observar a angústia que me causa agora, enxergar-te em meio ao desânimo.
De ver a energia da vida se esvaindo entre os dedos.
Sem muito ter o que fazer.
Por isso queria-te aqui.
A tentar lhe mostrar que o fim não precisa ser sofrido.
Que no mínimo, poderíamos nos despedir em meio à um sorriso triste, que fosse.
De mãos dadas, nas promessas de que a vida prossegue em ambos os lados.
De que mesmo divididos pela invisibilidade dos olhares, estaríamos juntos, nos sonhos que virão na escuridão do sono.
A trocar grandes abraços, a matar as saudades que nunca morrem...
Ou poderíamos aproveitar as horas que nos sobram!
Multiplicá-las!
E lhe mostrar que ainda existem esperanças de se seguir um pouco mais adiante.
Reage! Ainda há tempo! Ainda se encontra presente, ao alcance do dedilhar da canção da vida.
Queira-o! Agarra a minha mão e não solta!
Pois que não precisa se preocupar com as lembraças que certamente terei de você pela eternidade.
Não te condenes ao fim antes do segundo final.
Eu lhe imploro.

Do teu neto.

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