21 de mar. de 2013

Pontualidade no adeus


(...)Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.

(Trocando em miúdos, de Chico Buarque)
...
Perceber-se sobrando, compreender que podemos ter um tempo útil limitado na vida de alguém, que também expiramos na sua necessidade... Saber sair na hora certa é tão ou mais importante quanto saber chegar. Mais porquê geralmente não se quer -ou não se consegue- enxergar o momento de saturação.
Sair sem alarde, sem escândalo, sem drama, com dignidade, e manter o respeito a quem fica. E de preferência sob a sombra segura do silêncio, típica daqueles que têm consciência da perda do espaço e sabedor de que ninguém é obrigado a permanecer amarrado a outro, seja por gratidão, interesse superficial ou pena.
Quando chega a hora, não é bom esperar a gota d'água transbordar tudo. É melhor transformar o que seria a escuridão da madrugada em amanhecer, em novo dia. Porquê depois de toda tempestade vem a bonança.  Isso é certo.
Não é preciso condenar, praguejar, vingar-se. Ninguém está livre de desgostar.
Antes a sensatez da sinceridade, de fugir da covardia de fingir que ainda quer, ao invés de empurrar de lado, fazendo que gosta, que há cumplicidade quando não há mais nada. Antes de chegar o dia em que se perca a razão, a medida do limite, a dignidade e a ombridade, que atinja o desequilíbrio, traindo e magoando.
Uma vez pra aprender basta.
Não é precipitação. É adianto.
Não é desesperança. É objetividade.
Nem pessimismo. É realidade.

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