23 de fev. de 2013

O valor de um avô


Tem quem estranhe a dedicação que tenho pelo meu velho avô.
Abrir mão dos domingos inteiros há uns dez anos, das manhãs intercaladas há um pouco menos, das diárias sistemáticas há alguns meses, de não voltar tão tarde das minhas noitadas pra ter energia suficiente pra dois no dia seguinte...
Mas tudo isso é só pra quem tem o que eu tenho, quem vê o que eu vejo. Um velho avô como o meu: ranzinza, teimoso, ansioso, de pele muito frágil e enrugada, que sequer anda conseguindo sentar-se equilibrado... mas com um sorriso banguela que faz derreter o coração do neto machão aqui.
Foi o sujeito que sem esforço algum me fez torcer pelo Flamengo aos três anos de idade. O gigante de 1,90 m que trazia balas e bananadas compradas no trem pras minhas sobremesas mais inesquecíveis. Que me enchia de folhas de papel ofício e canetas para alimentar meus "dons artísticos". Esse é o meu avô, figura marcante.
E ele ainda está por aqui, bem caidinho, bem acamado, mais pra lá do que pra cá, o último da saga, o herói da resistência. Mas se preciso for, sou capaz de ficar velho junto dele, pra não deixá-lo só nessa empreitada que um dia chega pra todo mundo. Infelizmente ele prefere estar em sua própria casa e não aqui, mas o velho deve ter suas vontades respeitadas, eu sei. E assim será.
Ele não é um resto de gente como muitos o observam. Está lúcido, apesar de tudo. Tem seus encantos, plantou meu carinho, meu respeito. Sinceramente, ele nem sabe como isso aconteceu. Nem eu. Sei que quando vi, estava mais do lado dele que de qualquer outra pessoa e certamente não irei nunca mais me dedicar a alguém com tamanha disposição. Não dá pra medir essas coisas, nem regular. Por isso faço de tudo pra tornar sua permanência por aqui algo não tão sofrido como já vem sendo.
É prazeroso servi-lo, meu velho mais amado! Contigo não há perda de tempo, nem de energia. Só alegria de cumprir o dever mais doce do mundo.
E garanto que estarei do seu lado até esse tal fim que não acredito, que é relativo, tenho certeza, vivendo a sua vida como se fosse minha. Tentando adivinhar tudo o que você precisa pra se sentir um pouco melhor, qual a posição que deseja ficar, o que está pensando, ou apenas segurando sua mão trêmula até que não possa mais enxergar a luz nesse olhos cansados de viver.
A você, meu avô, ofereço meu amor mais sincero.
...
Dedico essa postagem a todos que sabem dar valor real aos seus velhos, sejam eles pais, avós ou que ocupem qualquer outro cargo dentro da grande família universal. De preferência, aos que estão muito dependentes, pois esse é o momento mais propício para avaliar qual a capacidade do nosso amor. É na hora da abnegação e da compaixão.
Quem ainda os tiver por perto, que aproveite para amá-los ou tentar recuperar o tempo perdido. Ninguém sabe a hora da despedida, do último olhar, do último abraço nessa existência.
E dedico também a quem viu seus amados avós partirem pra vida maior, pra longe dos seus abraços físicos, mas nunca de seus corações.

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