14 de dez. de 2012

Arrependimento instantâneo existe?

Ouvi dia desses: "o remorso é um ótimo despertador, mas um péssimo companheiro."
Achei sensacional. Quem gostaria de ter permanentemente um estridente despertador como amigo? Acho que ninguém. Por outro lado -mais particularmente falando por mim- eu não gostaria de ter uma amizade muito cuidadosa como despertador para momentos que me exijam "acordar" pra realidade. Um sujeito acomodado como eu funciona melhor sob a estridência e até mesmo sob a opressão. É sério...
E imediatamente, cheguei à conclusão que enquanto ainda mantemos a vergonha como ponto de referência diante de um erro cometido -e descoberto- o remorso sincero não existe. Significa nesse comportamento que há ainda a possibilidade de novos erros serem cometidos na mesma área -em nome de um desequilibrado prazer egoísta-, e que também é sobre esse reconhecimento que nos envergonhamos. Nisto, estagnamos com o remorso, e ficamos sempre voltando aquela lembrança "tão sofrida" -leia-se, tão vergonhosa. O sofrimento não é garantia de arrependimento, ainda.
E é nessa hora também que os mal-intencionados vêem uma oportunidade de ouro para confundir os indecisos. Quando nos dizemos arrependidos, certamente que na maioria das vezes estamos apenas envergonhados pelo que descobriram sobre nós. A máscara caiu sim, mas isso muito raramente já significa arrependimento. Porém, é preciso mostrarmos reação imediata qualquer, e é aí que acontecem os arrependimentos instantâneos e as "conversões milagrosas" - religiosas ou não.
Por experiência própria, acredito que o arrependimento em situações de prazer egoísta só acontece com a busca pelo esclarecimento sóbrio sobre o que causou tamanho equívoco. E isso dá trabalho, requer vontade e leva tempo. Não basta assumir publicamente um ato que um dia foi descoberto e exposto por outrem para que isto denote sinal de arrependimento. Assim como não basta assumir uma dívida para que a mesma seja perdoada. Certamente que enquanto esse erro (cometido sob a sombra do prazer) não fosse descoberto, muito dificilmente teríamos -por nós mesmos- arrependimento.
Normalmente viramos as baterias do nosso dito arrependimento para a perda de tempo e energia que dedicamos ao erro que nos frustrou, ou para as pessoas que magoamos, decepcionamos e perdemos ao cometê-lo. É uma reação alternativa para pintar de arrependimento a nossa vergonha não assumida.
Talvez, o arrependimento tenha alguma garantia maior de sinceridade quando revelamos nossos desequilíbrios antes de os mesmos terem sido descobertos e expostos. "Talvez" porquê ainda depende de saber o que há por trás da intenção daquele que, de próprio punho, assina sua culpa antes de ser descoberto em erro. "Depende de saber" porquê pode ser também questão de má intenção. Quantos não assumem um erro pensando num indulto, numa redução de pena, numa vantagem qualquer?
...
Essa é uma questão muito delicada e difícil de expor, de escrever.
Já fui testemunho de "arrependimentos instantâneos", de "conversões milagrosas", e eu mesmo, em vários momentos da vida, já fiz uso do recurso conveniente de me dizer arrependido quando estava apenas (muito) envergonhado. E o pior em todos estes momentos, acho, foi me acovardar ao invés de assumir meu desequilíbrio. Isso aí é um grande agravante na hora de fazer as contas do quanto devo.
Dentro de mim, tenho certeza de que enquanto o remorso -a vergonha- me visitar constantemente, é que o desequilíbrio permanece próximo, presente, mesmo que apenas restrito aos meus pensamentos mais íntimos. E garanto que a vergonha é uma companhia triste, sempre muito bem assessorada pela consciência.
Acredito sim em arrependimento, em remorso sincero, mas não por simples assumir.
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Esclarecendo: considero prazer egoísta qualquer ação desmoralizante cometida em nome dos interesses absolutamente pessoais, que nos sacie os desejos mais egoístas a ponto de não termos qualquer consideração com quem seja prejudicado pelo mesmo.

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