27 de out. de 2012

Não importa o caminho


Todos. Exatamente todos os vícios têm associações comuns tanto na origem quanto nas consequências do seu exercício. Sempre que ouço ou vejo algo sobre o vício mais chocante do momento, o crack, fico tentando imaginar o que leva alguém a se identificar imediatamente com ele. Sei que pouco após seu uso inicial, sua força devastadora passa a agir diretamente sobre o discernimento, o que na maioria das vezes vence qualquer iniciativa do indivíduo. E com a maior potência da alma minada -a vontade-, o vitimado sucumbe.
A aparente saciedade, o êxtase inicial e a consequente frustração, fazem a necessidade de seu uso constante, na associação da ideia de que é preciso preencher o abismo infeliz que toma o indivíduo e o faz se perder, quase que sem chance de recuperar-se.
Mas sei bem que o crack é apenas um mecanismo a mais na eterna busca em que mergulhamos, rumo a qualquer coisa que nos apresente um "bem-estar" tanto quanto nos desvie da dura realidade.
O abismo, esse vazio que sentimos, é falta de algo que muitos não admitem sequer existir e que outros -que dizem crer- não compreendem. Mas o pior é que ambos, preferem permanecer no orgulho e na ignorância, negando e desconhecendo essa força - superior inclusive a qualquer explicação científica contemporânea. Talvez porquê para alcançá-la, seja necessário antes ter mérito, conquistado com humildade, trabalho e reverência... E como todo mundo sabe, o maior obstáculo humano é o orgulho. Orgulho em admitir que desconhecemos mas que precisamos buscar compreender, ignorando muito dos dogmas que nos foram impostos até hoje. Admitir crer, compreender e confiar perante a incredulidade, a incompreensão e a desconfiança da massa, é também um ato de coragem.
Seguimos pelo caminho contrário.
E o crack me faz olhar com apreensão, pela força que tem, em pouquíssimo tempo, degradar o ser humano e provar que todos somos iguais nas horas cruciais, da pior maneira possível. Sem um chinelo de dedo sequer ou engravatados bacharelados.
Mas não é só ele... O erotismo exacerbado, o álcool, a gula, as compras compulsivas, os jogos, o cigarro, a ociosidade, a ganância, outras drogas consideradas mais leves... são todos igualmente viciantes e degradantes. Talvez, a princípio mais sutis, mas capazes igualmente de nos proporcionar o mesmo (aparente e imediato) bem-estar do crack. Todos oferecem prazer ao alcance das mãos, a um custo teoricamente baixo. E o pior: de forma mais aceitável perante a sociedade, já que, agindo a médio e longo prazo, sob forma "controlada", nem sempre chegam ao alcance dos olhos da mesma. E como o que os olhos não veem o coração não sente, o choque só existe quando a coisa chega na superfície e alguém descobre. Isso se um dia aparecer.
Pela variedade, podemos observar que os agentes viciantes não precisam ser baseados em substâncias, mas também e simplesmente na conduta que apresentamos. Porquê raramente o causador dos males vem de fora e quando vem e se fixa, é porquê encontra em nós terreno fértil para sua instalação.
Haja cuidado com essas pequenas saciedades, que qualquer revista, novela ou expert, dita hoje como um comportamento normal, aceitável...
Igual e normal pra quem? Ninguém é igual. Cada um percebe e recebe os impactos da vida de um jeito. Da mesma forma, reagem de maneira variada. O que pra você não oferece risco, pra mim, pode ser um perigo iminente. E vice e versa. Não dá pra julgar e condenar sob essa ótica. Só se aliviar ou se lamentar.
Repito mais uma vez por aqui que admitir ou não que o problema existe, são outros quinhentos. Aí vai de cada um.
Não é preciso ser um especialista para perceber que há em todo mecanismo viciável a ação em favor do nosso bem-estar físico, a um prazo variado, oferecendo um efeito psicofísico de dependência repetitiva e destruição fisiológica. O que comprova que o ser humano sem conscientização da vida e sem compreensão moral, ainda não sabe lidar com a plenitude do prazer, da felicidade, da liberdade e do bem-estar físico.
Sem moral = sem senso de responsabilidade.
Sem compreensão real da vida = sem noção das consequências dos atos.
Por fim, é a prova de que infelizmente ainda não compreendemos que o bem-estar físico é um, e o psíquico/espiritual é outro. Um apenas sacia o momento, o outro nos satisfaz permanentemente.
...
Sei que faltam muitas coisas nesse texto, que faltam dados científicos, referências... Mas resolvi escrevê-lo mesmo assim porquê é uma ideia que vem me martelando na cabeça há mais de quinze dias, me fazendo escrever em qualquer pedaço de papel, onde quer que eu esteja.
Senti necessidade de falar principalmente de algo que nos faz tanto perder as estribeiras, nos desequilibrar, que nos faz perder amores, respeito, dignidade, tempo, vida... e muitas vezes de forma extremamente sutil, nos fascinando e nos fazendo ainda agir sob a sombra da hipocrisia.
Falar de moral hoje em dia, soa como se todos fossem amorais ou falsos-moralistas... Pra muitos, a moral anda fora de moda. Ainda mais se quem fala dela não tem muita moral pra fazê-lo. Sim, eu tenho essa pedra no sapato. Não duvide deste fato.

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