11 de dez. de 2011

Eu sei... mas não resolve

"Estava na desalegria
Vagando pela cidade
E o mormaço da saudade
Me pegou ao meio-dia

Chega dava uma agonia
O calor e a solidão
Queimavam meu coração
Mais eu não esmorecia

Cai em mim
Chuva que lhe quero bem
Cai em mim
Chuva que quer me molhar(...)"

(Num Trovejo de Vontade. De Geraldo Júnior, Terreirada Cearense)

Foi ao som desta música que hoje me peguei triste, mas num sentido totalmente diferente do da música, que fala da solidão de um coração queimando de saudade. A minha tristeza hoje veio da solidão sim, mas daquela que diz respeito à uma luta solitária pra tentar reanimar alguém que esmorece sem esperança. Caiu-me redonda a melodia tristonha desse xote...
Há um impacto forte quando se percebe que nada do que você aprendeu serve de consolo e esperança para alguém que lhe importe muito. É uma sensação de impotência, de incapacidade, de imobilidade... Nem sei medir.
Sim. Não existe garantia alguma de que nada daquilo que te sirva de estopim para compreender as coisas da vida, sirva também para outra pessoa. Por mais que se tente explicar e mostrar, não depende de nós plantar a convicção que temos, na cabeça do outro.
Até aí, nada demais. Mas o complicado é ver sofrer quem você ama de verdade, e que sofre porquê falta a confiança de ter uma fé que seja baseada na razão, na combinação do raciocínio e da emoção.
As religiões tradicionais puramente não nos dão base para compreender a justiça. Só a filosofia também não resolve. E como consolar quem se encontra diante da dor, se este não tem um suporte mais firme para se apoiar?
Eu sei que a responsabilidade não é minha. Ela é de quem não se permite buscar o que está além dos próprios sentidos. Mas isso não nos serve de consolação. Porque este mesmo, considerado irresponsável por não querer buscar é, ao mesmo tempo, aquele que se ama, que se quer o bem e a felicidade.
E aí, você vê a dor cercando seu amor... Você vê o pavor do fim próximo em seus olhos. Vê até mesmo que há uma saída, que há uma consolação, que há justiça em tudo o que ocorre... mas aqueles olhos não vêem nada além do desespero pelo desconhecido e pelo nada.
É nessas horas que vejo o quanto estamos defasados diante da grandiosidade da vida. Quantos estão apagados de fé por um orgulho besta, inútil, que só nos torna cada vez mais fatalistas diante das dificuldades. E outros tantos não entendem que, muito mais que corpos em movimento, somos essências inteligentes.
A dor, quando inevitável, deveria ser a energia das transformações positivas, e o ceticismo, a alavanca da busca pela verdade. Mas não. Tudo isso só tem parecido servir pra afundar os descrentes, porque não se compreende que a consolação está muito além dos parâmetros limitados do acaso, da casualidade. As consequências da vida não são um jogar dados, um sorteio de fatalidades. Mas como tem gente vivendo sob essa sombra...
Quando me deparo com essas pessoas amadas e fechadas, confirmo aquela história de que nem sempre saber o que dizer pode ser útil. Porque não depende mais de nós (querer ou poder) compreender nada.

4 comentários:

  1. Olha ... recentemente tenho transformado a dor em "motivação" ... em algo para acreditar, se está doendo é porque posso fazer parar ...

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  2. Bom começo, Cleber!
    É por aí mesmo.
    Grande abraço!

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  3. Olha me identifiquei muito, muito, mais muito mesmo com seu texto. Talvez por viver uma situação quase parecida (com o que entendi, se certa estou claro).
    Mais magnifico, abraços.

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  4. Jhenyffer,
    Acho que todo mundo que ama -ou amou- alguém já passou por essa situação em algum momento.
    E por mais que a gente tente se conformar, a dor dos nossos amores nunca nos permite isso.
    Abração e obrigado pela presença!

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