15 de jun. de 2011

Vingança


Até hoje, não vi um ato de vingança que "lavasse a honra" de quem o cometesse. Só nas novelas que isso se dá perfeitamente, sem farpas ferinas a quem se vinga. Pelo contrário, você é quem se sujará e se machucará ainda mais.
Podem até dizer que se saciaram, mas lá no fundo, a gente sabe que de nada adiantou.
Aos olhos da platéia, pode ser até que sirva, mas à sua consciência e ao seu coração... só sobra a 'ruminância' do que nunca será digerido sem dor maior ainda. E quantos ficam literalmente doentes assim!
Pior ainda é tentar retaliar contra quem nunca gostou de você. Não surtirá efeito algum no outro... Só em você!
A mágoa, o rancor de quem sente... isso traz mais malefício que saciedade, pois que intimamente, sejamos sinceros, não há qualquer sombra de satisfação. A esperança de que o outro sinta o sabor da sua vingança é mais uma ilusão acumulada. Porquê o sentido da vingança nunca será o mesmo que o da justiça e assim, nunca acalmará seu coração.
Se quem te machucou pouco ou nada se importava contigo, tanto faz você se rasgar, escandalizar, fazer-lhe o mesmo, tentar dar-lhe o troco, desejar-lhe o mal. Será em vão tentar atingí-lo. Poderá até desenvolver nele uma odiosidade qualquer, mas assim, só te revelará que o que você continua desejando, é sua atenção. Mesmo que através do ódio. Tem gente que vê vantagem nisso...
Quando, ao contrário, há importância, tudo muda. Um gesto singelo pode marcar e ferir mais que qualquer ofensa ou agressão.
Lembro-me claramente de o quanto me doeu perceber nos olhos de quem magoei profundamente, sua decepção. Bastou. Mas só senti esse efeito porquê de certa forma, considerava essa pessoa relativamente  importante.
Estranho, não?
Me senti enquadrado, acuado, envergonhado. Tanto que a princípio, me acovardei, não consegui ser homem e assumir todo o erro que havia cometido. Fugi por muito tempo. De mim.
Tive profunda vontade de não existir mais.
E essa sensação persiste até hoje, um pouco menos densa, mas persiste. É a pior das dores que alguém pode sentir. É a dor moral que se apresenta. Dor do reconhecimento de um erro e do remorso consequente. Dor de uma perda irreparável. Que tirem um braço, que conquiste um câncer, que façam incapaz, prostrado, miserável de teto e de alimento, um trapo humano... tudo em troca de ter novamente a consciência tranquila. Pode acreditar que eu aceitaria tudo isso de bom grado. Não é da boca pra fora.
Pena não ser possível...
Por merecimento, eu deveria passar por todo tipo de desmascaramento, mas o escândalo foi mínimo. Muito pelo contrário, o outro lado poupou-se heroicamente, límpido e se afastou irrevogável, obviamente. Por mais que não deva ter sido fácil...
Sua ação doeu-me mais que se fizesse o contrário, pois que se assim fosse, no máximo me faria passar alguns instantes a mais de vergonha perante a opinião alheia. E isso, logo se esqueceria, logo se diluiria no tempo. Para isso o remédio seria simplesmente dar um tempo da vida social, me esconder momentaneamente. Simples solução...
Mas sua reação foi totalmente inesperada.
Naquele olhar sofrido, percebi o quanto de dor disseminei numa quebra deconfiança irrecuperável, numa decepção monstruosa, triste... tão grande que posso garantir que o maior perdedor, o mais decepcionado, fui eu mesmo. Eu jamais conseguiria me esconder da minha consciência.
Mas repito: isso só ressoou profundamente na minha alma, porquê de certa forma, ainda havia algo contraditoriamente de valor do outro lado pra mim. Percebo hoje que só ali, naquele instante revelador, é que finalmente reconheci sua importância.
Tarde demais...
E lhe digo: por maior que seja a nossa necessidade de explodir e de expor aos olhos de todos aquele que nos foi o algoz cruel, de quase nada adiantará a retaliação se o mesmo não lhe tiver uma consideração mínima.
E quem saberá precisamente o seu valor na vida do outro?

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