11 de set. de 2010

Acomodação ou satisfação? Ambição ou ganância?


Recentemente parei pra refletir sobre essas situações, seus disfarces e verdadeiras intenções. Particulamente sempre fui muito acomodado. Não sei o que é, mas sempre trabalhei por pura necessidade de sobreviver...
Quando o volume de trabalho aumentava, me esquecia desse incômodo, mas bastava a pressão diminuir para que eu 'empacasse' com grande facilidade e quase total tranquilidade de consciência. Chegava a pensar que era o fato de 'Deus querer assim'.
E fui levando assim. Tanto que me conhecia, que sempre procurei ser empregado para -sendo exigido por um superior- me mover. E olhe que sei que até rendia acima da média. Não sou preguiçoso para o trabalho. Não é isso. Mas falta-me sempre a atitude, a ignição, o primeiro passo. Paguei um preço alto por isso, como não ser valorizado o tanto quanto gostaria, e talvez até merecesse ser.
Não é engraçado? Você vestir -e suar- a camisa por um objetivo de outrem... enquanto não consegue fazer nem 1%(!) do esforço por uma causa própria? Seja ela qual for a causa...
É.
Mas eu segui. Continuei dando minhas cabeçadas, ignorando meus dons, minhas aptidões... Tenho plena noção que contribuí bem para as empresas ondem trabalhei.
Como falei, o meu problema nunca foi preguiça. Trabalho desde antes dos 15 anos, gosto de organizar a infra-estrutura a nível básico e médio por onde passo, assim como curto participar da decisões, de dar idéias e pitacos para a melhoria do movimento, dos procedimentos, de resolver problemas. Tenho certeza de que é por isso que -muitas dessas pessoas para quem trabalhei- me admiram. Mesmo percebendo em mim, essa quase total inércia pessoal para a ambição.
Nesse caso, sei que a ausência de qualquer traço de ambição não é uma qualidade.
E mesmo depois que decidi por fim à ter sempre minha cabeça esmagada e minhas forças sugadas -em troca do mero pão de cada dia, depois que optei por criar minha autonomia profissional, fazendo coisas que faço bem e gosto desde que me conheço por gente... continuo acomodado... Continuo fazendo apenas quando realmente preciso muito fazer, na hora em que quero. Falha gravíssima.
Pois bem... eis que em um curto espaço de tempo, conheci duas pessoas que -tomando caminhos bem distintos dos meus- também eram totalmente diferentes entre si.
Um, o primeiro, dono de algumas lojas de peças decorativas, ateliers, antiquários e galerias de arte. Impossível não prestar atenção nos detalhes da tal pessoa e talvez, reconhecê-la como alguém bem sucedido na vida. Será? Por isso mesmo usei o 'talvez' na frase anterior...
Apesar de todos os bens que consegue sobrepor-se como dono, mais parece ser dominado por eles que usufrutuário. Espécie de escravo do invisível: boas roupas e calçados, bom perfume, relógio de ouro branco, carro zero e importado... Com pouco tempo de reunião, percebi o quanto estava estressado, preocupado, inquieto, insatisfeito... Certamente que não vivia.
A cada cinco minutos, seu celular tocava: informações dos gerentes das lojas, do contador, do agente financeiro, da secretária, da esposa...
Acredito que existem pessoas que gostam dessa vida realmente. A gente identifica quem faz isso por satisfação, por ter um espírito inquieto por natureza... Não é só grana.
Não era aquele caso, definitivamente.
Apesar de eu estar em pé de igualdade com ele, visto que o interessado no meu serviço era ele, deixava-se várias vezes revelar seu lado ríspido, descuidadoso no trato com seus subordinados... Com muito esforço não estava fazendo o mesmo comigo. Perguntaria alguém: 'ele tinha razão para te tratar mal?' Certo que não. E o mesmo poderia ser dito em defesa de seus funcionários e demais subalternos...
Como essa mesma pessoa disse ao final de mais um telefonema recebido: '-Manter o nível de vida que levo, dá trabalho...'
Ri sem-graça. Ele também...
Podia prever tranquilamente que talvez a única felicidade que restava à ele era acessar seus ganhos. Porque, depois que o dinheiro saía da conta para ser consumido, o pesadelo recomeçava...
Me comparei à ele numa tentativa ignorante de mais uma vez justificar minha inércia absoluta... mas, mesmo sem lógica, me senti em vantagem... Ledo engano.
Na verdade, éramos dois extremos. E como todo extremo passa longe do meio, do equilíbrio, éramos igualmente dois fracos. Um fraco metido à humilde e um fraco metido à poderoso. 'Grande diferença' na nossa categoria/classe...
Sendo sincero mais uma vez: quando a reunião acabou, senti-me aliviado... Pelo fim da mesma e por não ter fechado nenhum trabalho com ele... Mais uma vez me questionei: mau presságio que me fez evitar um estresse desnecessário ou novamente minha acomodação dando o ar da graça?
Pois bem, dias depois fui visitar um pequeno atelier/loja, montado na garagem de uma casa, no bairro vizinho, aqui no subúrbio do Rio mesmo...
Só de entrar no local, já senti o 'impacto' da energia daquele pequeno empreendimento... Coisa muito positiva mesmo... Artesãos e demais funcionários animados, 'trabalhando por música', tudo muito organizado, sem pressão inútil... O casal -dono do negócio- é entrosado, objetivo e... ambicioso, claro. Mas é aquilo: há ambições e há ambições também... O lance é não deixar ela evoluir -pelo egoísmo- e se transformar na ganância...
Entre outras coisas, disseram que 'estão muito satisfeitos com o que já conquistaram', apesar de muitos parentes e amigos -adimirados do modo como trabalham bem, dominam as técnicas e são promissores- os considerarem muitas vezes 'acomodados'...
Um soco na boca do estômado do meu (verdadeiro) comodismo...
Quem disse que os ambiciosos são sempre desequilibrados? Um cálice de vinho não embebeda ninguém e ainda faz bem à saúde...
Quem disse que os ambiciosos não podem/precisam ter limites? Baita ignorância também...
No caso, eles não perderam a visão, não ficaram cegos, respeitam e são respeitados. E crescem... em todos os sentidos: material, mental, moral e -pra quem acredita- espiritual.
E eu? Empolgado com aquela gente... continuo minha evolução... 'em passos de formiga e sem vontade'. Sou eu...
Tudo é vontade. Você quer, você pensa, você realiza... Se não quer, não pensa como devia, e realiza empurrando com a barriga, à meia-boca... isso, quando consegue realizar.
Muito do desequilíbrio sócio-econômico do nosso mundo existe por conta dos extremos... Um é tão acomodado que não sente a mínima necessidade de ser esforçar e melhorar, mesmo que seja para auxiliar os seus mais próximos. Faz-se de humilde e modesto para não crescer, para não suar... Vai servir de exemplo à quem? Preocupo-me...
O outro, é tão ambicioso que nada o satisfaz, não se impõe um limite de aquisições, de consumo... É ambicioso desmedido, com a desculpa de pensar no próprio abastado futuro e de seus próximos... Vai viver amanhã? Terá saúde? E quem herdar suas fortunas? Dará o devido valor?
Que seja! Quem pode identificar em sua própria vida, o que lhe é supérfluo e o que é lhe é necessário? Cada um sabe do si... É torcer para que tenhamos bom-senso.
Até porquê o supérfluo de um é a necessidade de muitos...
Somos -os extremistas- igualmente egoístas...
Porém, o pior dos dois é aquele que aponta cirurgicamente as próprias necessidades, tem plena medida delas e continua ignorando-as...

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Ouvi essa frase semana passada e acho que ajudará aos consumistas desmedidos também:
Compramos o que não podemos, com o dinheiro que não temos, para mostrarmos a quem não conhecemos, aquilo que não somos.

Que porrada, heim?

2 comentários:

  1. Eu era assim, um cara acomodado, cheio de preguiça, sem muitas ambições, mais ai tive um patrão, Claudio, que mim abriu os olhos, deu um gas danado em minha vida profissional, o que acabou refletindo, e muito, na pessoal, mudei muito e agradeco muito a ele.

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  2. Paulo, você sabe que nunca encontrei um patrão estimulador?

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