28 de jan. de 2010

Religiosidade versus Postura Cristã


Não. Não sou evangélico ou católico. E nem vivo em igrejas, mas me considero um cristão -aquele que acredita nos ensinamentos deixados por Jesus Cristo- imperfeito que gosta de refletir sobre o assunto. Sou indagador desde criança.
Nunca aceitei a idéia do 'mundo criado em seis dias', com o descanso do Criador no sábado. Como, se um planeta como o nosso só poderia ser criado em bilhões de anos? Fato já confirmado pela ciência, que nos é permitida por Ele... Mesmo que Deus o quisesse fazer desse jeito, pra que teria pressa se 'é eterno e existiu desde sempre'? Como assim, 'fez um homem do barro e de sua costela, uma mulher'?
Lógica até tem, o homem 'sair do barro', evoluir como criatura, navegar entre os reinos antes de receber o atributo da inteligência divina, no momento certo...
E o 'paraíso'? Colocou nele Adão e Eva... mas, e os dinossauros? Onde entram nessa história? Não dá pra ignorar provas fósseis... Mais adiante: uma serpente que fala e que oferece uma maçã- símbolo do pecado- justamente à uma mulher? Por que eximir o homem da responsabilidade do possível erro?
E o fim da vida? Quer dizer que morremos e simplesmente dormimos, na escuridão total do nada, para -no dia do juízo- ressurgirmos da terra para encontrarmos nossos queridos? Caberíamos todos no planeta? E onde entra a decomposição nessa história? Que capacidade absurda teríamos de reunir nossa células perdidas à anos, recuperá-las do solo esfacelado e nos re-formarmos novamente! Mais que inacreditável, uma visão pavorosa, digna de um filme de terror...
Por que dos poucos ricos e dos numerosos pobres? Por que dos doentes desde o nascimento? Dos incapacitados até o fim de seus dias? Dos de boa conduta humana que morrem violentamente, cedo ou deixam os seus no abandono da fome e da saudade?
Que Deus justo seria esse? Parcial e ao mesmo tempo cego? Que escolhe de olhos fechados quem vai sofrer ou deixar de sofrer? De viver na abundância material ou na falta do básico? 'Não' -eu pensava, jovem ainda- 'tem alguma coisa errada nessa história'.
E uma frase que me marcou muito o raciocínio, foi de uma professora de história, chamada Leila:
'A Igreja entra onde a história e a ciência não conseguem explicar'...
Pode não ser uma verdade absoluta, mas foi um bom começo, professora.
E a própria Bíblia -tão polêmica e fantasiosa em alguns fatos- é uma fonte enorme de esclarecimento. Desde que bem interpretados... Aí está a chave da verdade: a interpretação adequada. O equilíbrio sempre será o ponto de acerto em qualquer caminho do homem.
Como alguns se permitem exigir que outros se 'convertam' à sua religião, se nem eles conseguem manter seus argumentos diante das indagações mais polêmicas?
Não dá pra seguir com segurança alguma, aquilo que não nos resolve as dúvidas, que não nos aplaca a consciência.
Como crer tão cegamente se não encontramos o apoio necessário na escuridão?
Muitos se colocam como donos da palavra de Deus. São auto-entitulados 'designados por Ele' para fazerem uso de Sua palavra. Muitos incapazes por ignorarem que existe o dom de fazê-lo. 'Formam-se' em 'Doutores da Lei' e basta: estão prontos para o trabalho. Sabe-se que nem sempre o intelecto significa conhecimento. Saber ler é diferente de saber sentir. A leitura a gente adquire na escola, já o sentir... nem sempre.
Como -impregnados de preconceito, de falta de respeito e fazendo uso de interpretação limitada e errônea- querem mostrar que vivem uma vida cristã? Já aprendem errado e passam o erro adiante. Como se, só pelo volume da voz, pudessem fazer suas palavras entrarem no coração alheio.
Deus não nos ditou uma religião à seguir, já que a religião é apenas um modo que o homem encontrou de tentar explicar o que é Deus. Pode realmente ser um excelente meio de se aproximar Dele e de aprender sobre Ele, sem dúvida alguma. Deus não é religião alguma, ou seria efeito e não causa, como O é. E a nenhuma religião é dada a garantia de se encontrar Deus. Isso depende exclusivamente do homem que o busca. Ninguém sabe exatamente quem o busca de verdade: só Deus reconhece suas ovelhas. Paciência se queremos nos enganar, 'como aqueles que oram nas esquinas, para mostrar sua religiosidade e vaidade'. Quem busca a Deus, busca 'dentro do quarto, de porta fechada, no seu íntimo, sem testemunhas'.
Mas mesmo nas religiões mais fanáticas, existe uma grande utilidade. Muitas conseguem dar novo foco à vida de pessoas desacreditadas da sociedade. É fato incontestável. Mais uma prova de que o homem é dono de suas decisões. É quem pode transformar o próprio coração deserto em campo florido.
Mas ninguém pode ignorar os questionadores. Aqueles que não se conformam com respostas como 'é assim porquê é de Deus' ou 'isso é coisa do demônio'.
Assim como os que se satisfazem com os limites do palpável, existe do outro lado os que buscam a lógica e o raciocínio plausível. Aqueles que querem mais do que os olhos podem ver. Não os que o ignoram por vaidade, orgulho ou por desafio à Deus. Claro que existem esses também, mas no caso, o são mais por pequenez do que por qualquer outra coisa. São justamente esses que -numa pequena queda- se convertem cegamente e ingressam nas fileiras dos testemunhos super-valorizados por algumas religiões.
Me enquadro entre os que questionam 'os mistérios da vida' por pura necessidade de saciez lógica. Por não querer apenas fazer número no pequeno coro. Buscamos o diferencial da qualidade íntima, da satisfação e da plenitude de dizer que 'encontrou o seu caminho verdadeiro'.
O respeito, a opinião e as necessidades alheias devem ser consideradas como forma única de superioridade de conhecimento.
Ainda mais pelos que se dizem 'conhecedores profundos da palavra de Deus'. Se o são, devem -no mínimo- agir como, aceitando o próximo independente dos seus passos. No mínimo, sendo sinceramente pacientes à espera do 'despertar' de cada um. Não como abutres sobrevoando a caça, 'agorando' cada passo certo desta, torcendo pelo erro do próximo para lhe apontar a queda e se apoderar de suas vísceras fragilizadas. Não são pescadores de almas e sim, papa-defuntos. Os vampirizam, os sugam tudo, fazem uso de lavagem cerebral... até que não tenham mais utilidade.
É bom saberem aqueles que tentam converter à força que aqueles à quem pressionam podem estar tão certos para si quanto eles. Às vezes, até mais seguros...
Uma pessoa veio me dizer que orava para que Jesus tocasse o meu coração... Como se ele já não o tivesse feito... E ainda questionam nossos sentimentos, como se fossem o último patamar de saber sobre 'como amar e sentir a Cristo'. Existe maior soberba? Estamos pedindo para sermos convencidos do que sentimos? Por que eles têm sempre essa intenção? Precisaremos agora andar com um documento autenticado e oficializado no bolso?
Todos devem ser respeitados. Tanto aqueles que não procuram nada além das escrituras e que interpretam mal o que lêem, quanto os que vão atrás de novos horizontes -novos sentidos e interpretações- dentro das mesmas palavras, ou ainda os que nada buscam.
Por que não aceitar o que serve em outra frente de trabalho como irmão? Por que eximi-lo de ser filho de Deus -e rotulá-lo como mera criatura, quando o próprio Deus é 'pai de todas as criaturas'? Aceitando-os ou não... somos irmãos, filhos do Pai Maior, sinto-lhes dizer.
Por que o desespero de tentar converter maciçamente mais ovelhas quando se é lido que nenhuma ovelha escapará do Reino? Medo do futuro? E a fé inabalável, onde anda nessas horas de desespero?
Onde há no Evangelho, qualquer palavra que insinue que se seguirmos tal ou tal religião teremos garantia de salvação? Pelo contrário, está lá: 'Será salvo aquele que amar ao próximo como a si mesmo e a Deus, acima de tudo.' E que 'aquele que alimentar, cuidar, amparar, velar... à cada um dos seus irmão, será salvo, pois quando o fez, estava fazendo a mim'. Palavras de Jesus... Se ninguém vai ao pai senão por Jesus, isso nos basta para tranquilizar o coração de quem ainda questione isso.
Quem somos nós para nos julgarmos mais ou melhor por conta da postura exterior que mostramos? Quantos de nós aparentamos o corpo limpo, quando o interior está apodrecido, maquiado e/ou camuflado?
Apenas Deus, quando bem lhe convir, poderá apontar o acerto e o erro nas nossas decisões. Talvez, o que acreditamos ser a verdade absoluta, seja apenas meia-verdade. A nós, de forma alguma, nos cabe julgar a palavra ou o homem que age. Não nos cabe também justificar atos por sermos designados por Deus, sendo que as testemunhas que temos sobre nossa transformação são sempre duvidosas e nem poderão jamais ter o peso da análise pessoal e intransferível Dele.
Podemos ainda buscar as palavras que dizem que 'aquele que se eleva, será rebaixado e, aquele que se rebaixa, será elevado'. Pois é justamente o que muitos fazem quando não conseguem se elevar além do raso e então decidem 'rebaixar' os que diferem de suas interpretações: 'jejuo e dou meu dízimo... não sou como aquele...'
Evidenciar suas próprias qualidades e apontar as possíveis feridas do outro é rebaixar-se por sua própria arrogância. Se nem Deus o faz assim, quem nos dá o direito de assim o fazer?
Observamos hoje que não bastam mais apenas inúmeros seguidores comuns: eles precisam ser grandes 'ex-pecadores'. Quanto mais e piores os pecados 'superados', melhor. São histórias e estórias, que subestimam a capacidade de raciocínio livre com que Deus nos presenteou e que superestimam pequenas vitórias e as transformam em troféus bizarros de superação questionável. Trocam seus feitos de transformação por status dentro de suas religiões.
Desconhecem que o que arrasta é o exemplo no dia-a-dia. Mas não é também um arrastar frágil e instável. Aquilo que é baseado no respeito e na solidez do raciocínio justo, é definitivo, pois encontra no coração a medida exata da justiça Divina. A casa que é construída sobre a rocha e não sobre a areia.
Jesus tinha razão: 'muitos pregarão em meu nome', 'muitos serão os falsos-profetas'... Tanto que ignoram completamente Seu poder de justiça e existência. Lembremos sempre que os ensinamentos de Deus não são para os saudáveis do espírito. São para os de alma doente. São para os iludidos que se banham em ouro, mas mantém o interior submerso na ferrugem. 'Seu tesouro está onde se encontra o seu coração'. Os valores existem em todos os lugares, assim como os oposto. Não é por estarmos dentro de uma doutrina ou religião, que há garantias de encontrarmos a perfeição de alguém. Antes de religiosos, são humanos.
'As sementes serão jogadas em todos os lugares, mas só vingarão onde o solo apresentar qualidade para tal'. Mas, ainda hoje a máxima de que 'só ouvirá ou enxergará, quem tiver ouvidos de ouvir ou olhos de ver' está atualizadíssima.
Deus, do alto de sua superioridade e amor, nunca precisou de 'louvores' gritados em seu nome... substituímos sacrifícios materiais por cantos comerciais... É válido? Pessoas que vivem de vender louvores. Vejam a lógica: Deus não é vaidoso, não precisa de auto-afirmação. Precisa sim: de mãos dispostas à sanar as dores dos filhos necessitados, nossos irmãos. E assim devemos seguir, irmãos ajudando irmãos, dentro da grande família que somos, a HUMANIDADE.
O maior louvor que podemos dar à Deus é justamente reconhecê-lo como nosso Pai, procurando amparar e nos doar como humildes ferramentas em Suas hábeis mãos. Certo que muito mais fácil é passarmos o dia -ou horas que sejam- dentro das igrejas, a orar por Ele, enquanto tanto passam necessidades físicas e espirituais ao nosso lado.
Falta tanto para compreendermos uns aos outros, aceitarmo-nos como somos... com que pretensão então desejamos entender Deus por completo ou sermos dominadores de Suas intenções sublimes?
Não importa-nos o caminho que tomemos e sim, o objetivo do mesmo. Algumas estradas são mais longas, outras mais curtas, mas isso depende mais da conduta do andarilho que do caminho em questão. Um mesmo caminho pode tomar várias direções, pode apresentar mais ou menos obstáculos. Depende de como cada um que o vê. Que importa à Deus? Ele sabe que somos crianças trôpegas à dar os primeiros passos, chorosas e carentes de atenção. Ele é paciente e sabe de cada um de nós, como ninguém. E isso O basta para confiar-nos a vida e esperar-nos de braços abertos sempre. Não importa se o chamarmos de Pai, Senhor, Criador, Jeová, Alá, Oxalá, Cristo... o que importa é quanto nosso coração O confiará.
O resto é só um detalhe... pra nós.

7 comentários:

  1. Li todo seu post (longo, ñ? rsrs):muito bom. Sabe, às vezes tenho a pretensa impressão de q estou só, qro dizer, só c/ minhas idéias. Movida pela vaidade às vezes é motivo de orgulho. Mas orgulho raramente serve pra alguma coisa! rs No fim é sempre bom saber que "ainda há" alguém em meio a tanta gente q nos cerca que pensa como nós! Me faz sentir humana,real, um ser como o outro. Nosso mundo tenta a todo preço nos fazer de plastico, em série ...rs É bom saber q ñ estou só.

    Grata por compartilhar. :)

    Um Abraço

    Prisca.

    Ps: Li alguns coments na EPER...rs vc é bacana ou "engana" bem.
    ;)

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pela visita, Prisca!
    Não precisamos aceitar o que não compreendemos só para sermos "aceitos" por uma parcela da sociedade que se intitula "escolhida".
    Beijo grande!

    ResponderExcluir
  3. O Que um ateu poderia escrever sobre esse texto?
    sei la, prefiro calar-me ao enforcar-me na corda da liberdade.
    Um Abraço Flavio.


    http://paulosergioembuscadotempoperdido.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  4. Não precisamos nem falar de Deus -coisa que ninguém ainda pode compreender em sua essência-, Paulo Sérgio.
    Mas podemos questionar a diferença que há entre um homem de bem -independente de qualquer crença- e um hipócrita religioso -preocupado apenas com louvores inúteis e sua imagem exterior. Não é verdade?
    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  5. Concordo Flavio, se as pessoas pensassem assim talvez teriamos um mundo melhor, essa hipocrisia que assola nosso país esta acabando com ele.

    ResponderExcluir
  6. Tenho uma visão a respeito da religião (fé e afins) muito parecida com a sua. Questiono tudo desde que me entendo por ser humano. E geralmente encontro minhas respostas.
    É uma verdade que há coisas na Bíblia que simplesmente fogem à realidade, mas é também verdade que a maior parte dos textos bíblicos é mal interpretada, conforme a vontade das pessoas que se acham capazes de doutrinar as outras.
    Cada um costuma ter um conceito diferente de Deus - e alguns nem um simples conceito têm, pois nunca pararam realmente para pensar no assunto. Mas a verdade é que tudo é relativo e há coisas inexplicáveis, que somente a fé pode suster.
    Ótimo texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mia querida, se tem uma coisa que eu sempre falo pra qualquer pessoa é "permita-se". Porque quem se permite, tem tudo ao seu alcance. Não fica preso à ideias prontas e nem também se fecha para as novas ideias. Nem ao ateu, nem ao fanatismo. Se equivalem e se perdem.
      (Reli o texto e encontrei vários erros de português...rs Como tenho costume de a cada comentário, reler o que escrevi, agradeço pela visita extra! rs)
      Grande abraço e continue se permitindo pensar e experimentar!

      Excluir