4 de nov. de 2009

A Tangerina

Na fruteira de louça colorida, se encontrava uma tangerina.
Grande e aparentemente madura, apresentava sua cor alaranjada e muito viva. Parecia realmente madura, apetitosa. A boca salivou só de imaginar.
Com ela em mãos, sentiu-se a textura da grossa e rústica casca. Estava fresca no ambiente. Tentadora.
Com o polegar direito, procurou seu centro e apertou-o na idéia de romper-lhe a cobertura resistente. Conseguiu e logo sentiu a umidade peculiar, o cheiro que espirrava e borrifava o ar de forma tão característica, tão própria, tão inconfundível. Suspensas no ar, essas gotículas cairam nos olhos e arderam por breves segundos... Nada que lhe tirasse a vontade de saborear a desejada tangerina.
Descascou-lha com destreza e desfez-se das fibras excessivas. Mais uma vez, aspirou seu perfume, aguçando ainda mais o paladar, fazendo sua boca salivar rapidamente. Partiu o fruto em dois, separando-o quase de maneira uniforme, dividindo-o nas mãos.
Desgarrou um dos gomos e levou-o à boca avidamente. Mordeu-lhe e deixou-se arrastar pelo prazer da fruta no ponto. Procurou os caroços e não os encontrou. Relaxou-se e sentia o suculento sabor a banhar-lhe a língua inquieta. Salivou ainda mais diante da mistura cítrica e adocicada. Um leve e típico azedor equilibrava tudo. Continuava doce, perfeita. Nem sentia que a engolia voraz e -muito menos- que logo, tudo estaria acabado.
Saboreou um a um os gordos gomos e lamentou-se ao abocanhar o último.
Uma pena: era a última tangerina da fruteira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário