17 de nov. de 2009

O Foragido

Sentia-se vigiado. A cada passo, era observado. Era colocar o pé fora de casa e sua agonia começava: alguém estava à sua espreita. Talvez, a lhe acusar ou então a lhe apontar o ato falho. E sabia da verdade. Estava consciente do porquê daquele medo, só não vislumbrava aquele quem condenava seus passos de forma tão apavorante.
Era mesmo digno disso ou daquilo. E vivia assim, sendo perseguido.
Haviam horas em que tentava fugir daquela situação. Acabava que, só saindo nas sombras da noite, virava um foragido. Qualquer luz, qualquer farol já era suficiente para apavorá-lo.
Suas atitudes só confirmavam as suspeitas daqueles olhos desconhecidos em que sentia visá-lo incessantemente. Ele não conhecia o dono desse olhar, mas ele estava lá, o tempo todo. Incansável.
Bastava ameaçar o pescoço no portão e já sentia um frio que lhe percorria a espinha. Sentia o risco de ser novamente perseguido. E se vigiava.
Era um alívio entrar em casa. Trancar a porta e verificar -por alguns instantes- através da cortina, que aquele que o perseguia, ficara lá fora. Pelo menos, por hora.
Quando sair se fazia inevitável, caminhava de cabeça baixa, olhos no chão e o coração em frangalhos. Nenhum sorriso, nenhum cumprimento, nenhum aceno.
Mesmo à rua deserta, lá ia ele amedrontado, pulando de sombra em sombra, por trás das árvores, pelos cantos das calçadas menos iluminadas, nas ruas mais perdidas. Caminhadas curtas e atalhos sombrios.
Um dia, teve a certeza de estar completamente só e conseguiu perceber, por trás da escuridão, na esquina mais esquecida, o seu observador implacável. Descobriu quem o perseguia tão raivosamente: suas lembranças.
E decidiu nunca mais sair, nem mesmo de dentro de si.

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