5 de ago. de 2012

Síndrome de Super-Herói

É o que eu tenho. Pensar ser capaz de tudo, porquê tenho saúde, tenho certa juventude, não tenho medo de trabalho... Isso dá a impressão de uma independência absoluta do mundo. A qualquer hora, posso dar um bico na vida, em quem me olha de lado, em quem não se adeque ao meu gosto...
Somos mesmo capazes de tudo? E por acreditar que sim, é que -intransigentes- agimos quase sempre com o coração, deixando a razão de lado, principalmente quando o nosso derredor não está mais nos agradando.
Estava pensando cá com meus botões: isso tem um ar de super-herói. Só que pra ser um super-herói humanizado, abrindo mão de ser tolerante com a minha realidade e paciente com meu tempo, ou não posso ter qualquer outro interesse além do meu "dever de herói" ou preciso de uma retaguarda tão boa que a mesma assuma todas as minhas responsabilidades de ser humano e cidadão. Ou alguém acredita que é só deixar tudo pra trás, recomeçar do zero e achar que está tudo certo? Afinal, pra bater no peito, botar banca, sair por aí e ganhar o mundo, é preciso sempre contar com alguém. Necessito que alguém cubra meu avanço, que no mínimo assuma parte dos meus outros deveres. E ainda assim, já serei mais irresponsável que muita gente, jogando no colo desse alguém as consequências da minha insatisfação, da minha falta de reconhecimento de valores e do meu ímpeto orgulhoso. Quem depende de mim estará ferrado e mal pago certamente.
Se for um pai ou uma mãe, vai sofrer altos apertos por eu não tolerar meu emprego e ser mandando embora sempre que eu perder as estribeiras, ou vai ser abandonado às traças quando eu me cansar da tarefa de cuidar de um ou de outro.
E se for um filho então, já posso prever o que ele vai fazer -sem pensar duas vezes- no dia em que o ambiente não estiver mais tão interessante pra ele... O poder da observação e do exemplo são fortíssimas impressões.
E o super-herói, como é que faz nessas horas? Raramente conheci nos filmes e nos quadrinhos, super-heróis que possuiam família. Quando suas famílias não eram apenas um único e distante parente de criação, as mesmas tinham sido assassinadas por completo. Ou ainda, o sujeito vinha de outra galáxia...
Aí fica fácil!
Só que eu não vim de outra galáxia, tenho minha família viva, cheia de caos e ainda a quero próxima... "Fazer do limão uma limonada" é fazer de um grande problema um degrau de evolução íntima. É ardente desejar. É desejar fazer.
Tantas vezes já escrevi aqui: todo mundo -inclusive eu- diz que quer mudar, que quer resolver, que quer ser, fazer e acontecer... Mas é tudo da boca pra fora. Quem quer mesmo, faz e pronto. E faz sem alarde, e muito bem feito.
Pra começar, é ponderar mais. Eu sei, refletir muito realmente faz com que a gente deixe de agir, mas principalmente de agir mal. Eu, pelo menos hoje, prefiro não agir a agir de qualquer maneira. Antes tarde do que nunca.
E aí, não tem jeito de dar energia a esse meu ímpeto egóista de voar por aí, praticamente livre, em qualquer direção. E por mais que em diversos momentos eu deseje ardentemente viver exclusivamente minha vida, fazer o que quero, assumir novos compromissos deixando os antigos pra trás...eu não posso desconsiderar que esse tipo de atitude vai me cobrar um preço alto, pela minha irresponsabilidade, impetuosidade e rebeldia, independentemente dos motivos que me levem a jogar (quase) tudo pro alto. Não quero tapar o sol com a peneira, pois vai sobrar pra alguém o que eu deixar de fazer. E certamente que a vida, (ainda "incompreensivelmente") justa como é, vai dar seu jeito de me apertar, e eu vou ter que pagar de forma compulsória, pela dor. E enquanto eu não pagar, tenho certeza que nada vai dar certo, ou se der, vai sempre faltar aquela última peça do quebra-cabeças da satisfação, da autoadmiração, da felicidade.
Pra ser super-herói, teria que possuir uma liberdade que só a solidão absoluta poderia proporcionar, e assim viver incompleto. Um martírio até pro mais egoísta dos egoístas. Acho que isso é impossível pra qualquer um, com um mínimo de sã consciência.
Nada lá fora vai me completar, eu sei -apesar de, por ilusão, eu ainda pensar desse jeito de vez em quando.
E pra mim, ser independente ao ponto do isolamento, do afastamento, assumir que sou um super-herói sem poder ser, carregando comigo só o que quero, não vai resolver o que no fundo tanto me incomoda por dentro: meu jeito de não saber lidar e aceitar o que está fora de mim.

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