Certo que talvez ela não tenha entendido porquê não me fiz visível depois de revelar-lhe secretamente que a admirava.
No fundo, já sabia eu que não poderia mais uma vez levar adiante uma nova tentativa e uma nova frustração.
Ando cansado de tentar me enganar com aquela história de que é possível encontrar alguém que se enquadre na minha realidade, nas minhas migalhas de tempo, de presença, de energia e até de grana.
Assim sendo, depois de desabafar meus sentimentos, de fazê-la perceber que eu a notara, me recolhi.
Ela quis saber quem eu era, como eu era...
Pus tudo isso na balança e vi que não ia ser possível.
E ainda: deixar de continuar admirando-a sem o constrangimento dela saber que sou eu o dono dos sentimentos? Melhor não.
É verdade. Um dia, escrevi-lhe um bilhete e coloquei-o em sua bolsa.
Foi como jogar um peso pro outro lado do muro, visto que tamanha emoção não deve ser carregada só.
Era fardo demais aquela agonia de não poder dizer que arrisquei.
O fiz.
E ficou por isso mesmo.
Hoje a vi novamente.
Tenho sempre a visto.
Dia desses, sentou-se do meu lado. Noutro, atrás de mim. Hoje, quase à minha frente.
Linda como sempre.
Os cabelos que chegam presos, são logo soltos, cobrem-lhe os ombros, adornam-lhe as formas.
Ela tem uma gargalhada bem evidente -que eu acho muito gostosa.
Mas é melhor assim.
Não tem sido.
Mas um dia me acostumo com ela nessa vitrine que a coloquei.
A não ser que ela faça alguma coisa pra me fazer resgatá-la de lá...